terça-feira, 8 de janeiro de 2013

"O LIVRO DOS ESPÍRITOS": PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS






















PRINCIPAIS LIÇÕES CONTIDAS EM “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, PARTE 2, CAPÍTULO IV: PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS

Geziel Andrade

I – DA REENCARNAÇÃO

A alma que não atingiu a perfeição durante a vida corpórea depura-se submetendo-se à prova de uma nova existência material.

Portanto, a alma para depurar-se necessita da prova da vida corpórea.

Em função disso, todos nós temos muitas existências corpóreas. Os que dizem o contrário desejam manter os outros na ignorância em que eles mesmos se encontram.

Após ter deixado um corpo material, a alma toma outro; isto é, ela se reencarna em novo corpo.

A reencarnação permite a expiação dos erros cometidos numa existência corporal e o melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isso, onde estaria a justiça de Deus?

A cada nova existência corporal o Espírito dá um passo na senda do progresso intelectual e moral. Quando já se despojou de todas as impurezas, não precisa mais das provas da vida corpórea.

O número das encarnações não é o mesmo para todos os Espíritos. Aquele que avança rapidamente se poupa das provas da existência material.

Porém, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porque o progresso é quase infinito.

Depois de sua última encarnação, o Espírito se transforma em Espírito bem-aventurado; em Espírito puro.

II – JUSTIÇA DA REENCARNAÇÃO

A doutrina da reencarnação expressa a justiça de Deus. Um bom pai deixa sempre aos filhos uma porta aberta ao arrependimento. Deus seria injusto se privasse para sempre da felicidade eterna aqueles cujo melhoramento não dependeu deles mesmos. E todos os homens são filhos de Deus.

Todos os Espíritos tendem à perfeição e Deus lhes proporciona os meios de consegui-la, com as provas da vida corpórea.

Deus, em Sua justiça, permite aos Espíritos realizar, em novas existências na vida material, aquilo que eles não puderam fazer ou acabar de fazer numa primeira prova.

Não estaria de acordo com a equidade, nem segundo a bondade de Deus, castigar para sempre aqueles que encontraram obstáculos ao seu melhoramento, independentemente da sua vontade, no próprio meio em que foram colocados.

Se a sorte do homem fosse irrevogavelmente fixada após a morte de seu corpo material, Deus não teria pesado as ações de todos na mesma balança e não os teria tratado com imparcialidade.

A doutrina da reencarnação admite para a alma do homem muitas existências sucessivas. Ela é a única que corresponde à ideia da justiça de Deus, porque trata com respeito os homens de condição moral inferior.

A doutrina da reencarnação é a única que explica o futuro da alma humana e lhe dá esperanças de dispor de meio de resgatar os seus erros através de novas provas na vida corpórea.

A razão nos diz que é assim e os Espíritos nos ensinam isso.

A doutrina da reencarnação é consoladora ao dar esperança para o homem que tem consciência de sua inferioridade. Se ele crê na justiça de Deus, sabe que a sua inferioridade é temporária e que não está deserdado para sempre do bem supremo. Ele poderá conquistá-lo através de novos esforços. Isso lhe reanima a coragem.

A experiência que o homem não adquiriu ou não aproveitou não estará perdida. Ele a conquistará e aproveitará numa nova existência material.

III – ENCARNAÇÃO NOS DIFERENTES MUNDOS

As diferentes existências corpóreas do Espírito não se passam todas na Terra, mas nos diferentes mundos habitados.

As existências do Espírito na Terra não são as primeiras nem as últimas, mas as mais materiais e distanciadas da perfeição.

A cada nova existência corpórea a alma renasce, muitas vezes, num mesmo globo, se ela não estiver bastante adiantada para passar a um mundo superior.

Certamente, ela pode reaparecer muitas vezes na Terra. Seguramente, pode também voltar à Terra depois de ter vivido em outros mundos. Portanto, ela pode já ter vivido noutros mundos, bem como na Terra.

Há muitos homens, em diversos graus de elevação intelectual e moral, que estão na Terra pela primeira vez.

Não há a necessidade da alma renascer apenas na Terra. Mas, se ela não progredir, pode ir para outro mundo que não seja melhor, e que pode mesmo ser pior que a vida na Terra.

Não há nenhuma vantagem particular da alma voltar a viver na Terra, a não ser que venha em missão. A alma pode progredir na Terra, como em qualquer outro mundo. Todos os mundos são solidários; o que não se faz num mundo, pode-se fazer noutro.

A alma não pode permanecer para sempre na condição de Espírito, porque ficaria estacionário. E o que se quer é que avance para Deus.

Para chegar à perfeição e à felicidade suprema, que é o objetivo final de todos, o Espírito não precisa passar por todos os mundos que existem no Universo. Há muitos mundos que se encontram no mesmo grau de evolução e onde os Espíritos nada aprenderiam de novo.

A pluralidade das existências de um Espírito num mesmo globo ocorre porque ele pode se encontrar de cada vez em posições bastante diferentes. Estas serão outras tantas ocasiões de adquirir experiência.

Os Espíritos podem renascer corporalmente num mundo relativamente inferior àquele em que já viveram, quando têm uma missão a cumprir, para ajudar o progresso. Então, aceitam com alegria as tribulações dessa existência, porque lhes fornecem um meio de se adiantarem.

Os Espíritos podem permanecer estacionários, mas nunca retrogradam. Trata-se de punição não avançar e ter de recomeçar as existências mal empregadas num meio condizente com a sua natureza. Os Espíritos que faliram em sua missão ou em suas provas têm que recomeçar uma nova existência semelhante.

Os Espíritos que habitam um determinado mundo não estão todos no mesmo grau de elevação intelectual e moral. É como na Terra: há os que estão mais ou menos adiantados.

Ao passar de um mundo para outro, o Espírito conserva o seu grau de inteligência, pois a inteligência nunca se perde. Mas ele pode não dispor dos mesmos meios para manifestá-la. Isso depende da sua superioridade e do estado do corpo que adquirir.

Os Espíritos que habitam os diferentes mundos têm corpos, porque é necessário que se revistam de matéria para agir sobre ela. Mas, esse envoltório é mais ou menos material, segundo o grau de pureza a que chegaram os Espíritos. É isso que determina as diferenças entre os mundos que temos de percorrer. Há, portanto, muitos graus e muitas moradas na casa de nosso Pai.

À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste aproxima-se igualmente da sua natureza. A matéria se torna menos densa, facilitando a locomoção, a satisfação das necessidades e as percepções. Além disso, as condutas morais elevam-se, vencendo as más paixões, o egoísmo, as guerras, os ódios, as discórdias, os remorsos e o medo da morte.

A duração da vida nos diferentes mundos é proporcional ao seu grau de superioridade física e moral. Quanto menos material é o corpo, está menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam. Quanto mais puro é o Espírito, menos sujeito às paixões que o enfraquecem. Trata-se de um auxílio da Providência, que deseja assim abreviar sofrimentos.

O Espírito nem sempre pode escolher o novo mundo em que vai habitar. Pode pedir e obter o que deseja, se o merecer. Porque os mundos só são acessíveis aos Espíritos de acordo com o seu grau de elevação.

Assim, o grau de elevação determina o mundo onde o Espírito irá reencarnar.

O estado físico e moral dos seres vivos que habitam num determinado mundo não é sempre o mesmo, porque os mundos também estão submetidos à lei do progresso.

Todos os mundos começaram como a Terra, num estado inferior. A Terra mesma sofrerá uma transformação, tornando-se um paraíso terrestre, quando os homens se fizerem bons.

Os Espíritos puros habitam determinados mundos, mas não estão confinados a eles como os homens à Terra.

IV – TRANSMIGRAÇÃO PROGRESSIVA

O Espírito, desde o princípio da sua formação, não goza da plenitude de suas faculdades, porque ele, como o homem, tem também a sua infância.

Em sua origem, os Espíritos não têm mais do que uma existência instintiva, possuindo apenas a consciência de si mesmos e de seus atos. Só pouco a pouco a inteligência se desenvolve.

O estado da alma na sua primeira encarnação assemelha-se ao estado da infância na vida corpórea. Sua inteligência apenas desabrocha: ela ensaia para a vida.

Na alma primitiva, a inteligência e a vida estão em estados de germes.

As almas dos selvagens estão num estado de infância relativa. São almas já desenvolvidas, dotadas de paixões, mas não da perfeição.
O Espírito precisa de um tempo imenso para passar da infância espírita a um desenvolvimento completo. O seu progresso se realiza passando por diversos mundos.
A vida do Espírito constitui-se em uma série de existências corporais, sendo cada qual oportunidade de progresso.
Isso se assemelha à existência corporal composta por uma série de dias, nos quais o homem adquire maior experiência e instrução. Mas, da mesma maneira que, na vida
humana há dias infrutíferos, na do Espírito há existências corpóreas sem proveito, porque ele não soube conduzi-las.

Mesmo mantendo uma conduta perfeita nesta vida, o Espírito não consegue vencer todos os graus da hierarquia espiritual e se tornar puro. Precisa passar pelos graus intermediários.

O que o homem julga conduta perfeita está longe da perfeição. Há qualidades que ele desconhece e não compreende. Todavia, ele pode ser tão perfeito quanto a sua natureza o permita, mas esta não é a perfeição absoluta.

Em seu progresso, o Espírito deve adiantar-se em conhecimento e moralidade. Se ele não progrediu senão num campo, é necessário que o faça no outro, para chegar ao alto da escala.

Porém, quanto mais o homem se adianta na vida presente, menos longas e penosas serão as provas seguintes.

A marcha dos Espíritos é progressiva e jamais retrógrada. Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem do plano já atingido.

Nas suas diferentes existências corporais, eles podem descer socialmente como homens, mas não como Espíritos.

É assim que a alma de um homem poderoso na Terra pode mais tarde animar um humilde artesão, e vice-versa.

Um Espírito imperfeito, em sua vida corporal, pode pensar em permanecer no mau caminho para corrigir-se mais tarde. Mas, uma vez liberto da matéria pensará de outra maneira. Ele logo perceberá que calculou mal, e é então que trará, numa nova existência material, um sentimento diverso. É assim que o progresso se efetiva.

Na Terra, uns homens são mais adiantados que outros porque já têm uma experiência que os outros ainda não tiveram, mas que adquirirão pouco a pouco. Porém, de cada Espírito depende impulsionar o próprio progresso ou retardá-lo indefinidamente.

Os sofrimentos e as tribulações da existência corporal melhoram os Espíritos que precisam chegar à perfeição. Eles se melhoram enfrentando as provas, evitando o mal e praticando o bem.

Somente depois de muitas encarnações ou depurações sucessivas é que os Espíritos atingem, num tempo mais ou menos longo, e segundo os seus esforços, o alvo para o qual se dirigem: a perfeição.

Dessa forma, o corpo material é apenas uma veste do Espírito. Este é tudo, por conter todas as faculdades.

V – SORTE DAS CRIANÇAS APÓS A MORTE

O Espírito de uma criança que morre em tenra idade, às vezes, pode ser bem adiantado. Ele pode já ter vivido muito e possuir muitas experiências, se já progrediu.

O Espírito da criança que morre em tenra idade e não pode fazer o mal, não pertence, por isso, aos graus superiores da vida espiritual. Ele não fez o mal, mas também não fez o bem. E isso não o afasta das provas que ainda deve sofrer.

O Espírito torna-se puro, não pelo fato de seu corpo ter morrido criança, mas porque ele já se adiantou em termos intelectuais e morais.

A curta duração da vida de uma criança, frequentemente é uma prova ou uma expiação para os pais.

O Espírito de uma criança pode, com bastante frequência, ser mais adiantado que o do seu pai.

O Espírito da criança morta em tenra idade recomeça sempre uma nova existência corporal para continuar seu progresso.

Se o homem só tivesse uma existência material, e após a sua morte a sua sorte fosse fixada para sempre, o que morre em tenra idade não teria merecimento para gozar sem esforço da felicidade eterna.

A alma que fosse liberada das condições quase sempre duras de vida impostas a grande parte das pessoas, gozaria de um direito que não estaria de acordo com a justiça de Deus.

Pela reencarnação, há igualdade para todos. O futuro pertence a todos, sem exceção e sem favoritismo. Os que demorarem para chegar à meta só poderão queixar-se de si mesmos.

Pela reencarnação, o homem tem o mérito das suas ações, bem como a responsabilidade.

Pela reencarnação, entende-se porque há crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que a educação ainda não pode exercer a sua influência; entende-se porque há instintos tão diferentes entre as crianças da mesma idade, educadas nas mesmas condições e submetidas às mesmas influências.

A perversidade precoce vem da inferioridade do Espírito. As que são viciosas progrediram menos e então sofrem as conseqüências das suas existências anteriores.
É assim que a Lei se mostra a mesma para todos e a justiça de Deus abrange a todos.

VI – SEXO NOS ESPÍRITOS

Os Espíritos não têm sexo como os homens o entendem. Os sexos dependem da constituição orgânica.

Mas, entre os Espíritos predominam o amor e a simpatia, baseados na afinidade de sentimentos.

Como o Espírito não tem sexo, o que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, numa nova existência, e vice-versa.

Portanto, são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres.
Dessa forma, pouca importa ao Espírito, quando está na vida espiritual, decidir encarnar num corpo de homem ou de mulher. A escolha depende das provas que ele tiver de sofrer na vida material.

Portanto, os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não têm sexo.
Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais, e novas ocasiões de adquirir experiências.

Aquele Espírito que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.

VII – PARENTESCO, FILIAÇÃO

Os pais transmitem aos filhos somente a vida do corpo material, porque a alma é indivisível. Assim, um pai estúpido pode ter filhos inteligentes, e vice-versa.

Desde que os Espíritos têm muitas reencarnações, a sucessão das existências corpóreas estabelece entre os Espíritos liames que remontam às existências anteriores. Disso decorrem, frequentemente, as causas de simpatia entre os familiares.

A reencarnação amplia os laços de família, pois o parentesco baseia-se em afeições de existências anteriores. Assim, os laços que unem os membros de uma família são menos precários do que os laços estabelecidos apenas pelo corpo material.

A reencarnação amplia os deveres da fraternidade: o Espírito de um vizinho ou de um criado pode ter sido um ex-familiar.

A reencarnação diminui a importância que algumas pessoas atribuem à sua filiação atual. Um Espírito pode ter pertencido a outra raça e vivido em condição de vida bem diversa, porque não leva para uma nova existência o orgulho, os títulos, a classe social e a fortuna.

Os Espíritos devem se sentir felizes por pertencer a uma família na qual se encarnam Espíritos elevados.

Sobre a reencarnação, os homens digam ou façam o que quiserem, não impedirão que as coisas sejam como são, porque Deus não regulou as leis da Natureza pela vaidade humana.

Os Espíritos não procedem uns dos outros, mas estão ligados pelas afeições e por laços de família.

Os Espíritos são frequentemente atraídos a esta ou àquela família por causa das simpatias ou ligações anteriores.

Os Espíritos dos antepassados não se prendem aos tributos que lhes são prestados por orgulho, mas sim pelos esforços dos familiares em seguir os seus bons exemplos.

VIII – SEMELHANÇAS FÍSICAS E MORAIS

Os pais transmitem a semelhança física aos filhos; mas, não lhes transmitem a semelhança moral, porque se trata de almas ou Espíritos diferentes.

Na reencarnação, o corpo procede do corpo. Assim, entre os descendentes existe a consanguinidade. Mas, o Espírito não procede do Espírito.

As semelhanças morais que às vezes existem entre os pais e os filhos decorrem de serem Espíritos simpáticos. Foram atraídos pela afinidade de suas inclinações.

O Espírito dos pais exerce muita influência sobre o do filho, concorrendo para o progresso recíproco.

O Espírito dos pais tem a missão de desenvolver o dos filhos pela educação. Isso é para ele uma tarefa. Se nela falhar, será culpado.

Os pais bons, virtuosos e com boas qualidades nem sempre atraem, por simpatia, bons Espíritos como filhos. É que um mau Espírito pode pedir bons pais, na esperança de que seus conselhos o dirijam por uma senda melhor, e muitas vezes Deus o atende.

Os pais não poderão, pelos seus pensamentos e as suas preces, atrair para o corpo do filho um bom Espírito, em lugar de um Espírito inferior. Mas, os pais podem melhorar o Espírito da criança a que deram nascimento e que lhes foi confiado. Esse é o dever dos pais. Além disso, filhos maus são provas para os pais.

A semelhança de caráter que existe frequentemente entre os irmãos, sobretudo entre os gêmeos, decorre que são Espíritos simpáticos, que se aproximam pela similitude de seus sentimentos e que se sentem felizes de estar juntos.

Porém, nem sempre os Espíritos se encarnam nos gêmeos por simpatia. A aversão que às vezes se nota entre eles prova que não é uma regra que os gêmeos tenham de ser Espíritos simpáticos.

Nas crianças, cujos corpos nascem ligados e que têm certos órgãos comuns, há dois Espíritos, embora as aparências indiquem o contrário.

Os Espíritos formam famílias pela similitude de suas tendências, mais ou menos purificadas, segundo a sua elevação.

Assim, um povo é uma grande família em que se reúnem Espíritos simpáticos. A tendência a se unirem, que têm os membros dessas famílias, é a origem da semelhança que determina o caráter distintivo de cada povo.

Os Espíritos bons e humanos não procurarão um povo duro e grosseiro. Os Espíritos simpatizam com as coletividades, como simpatizam com os indivíduos. Assim, procuram o seu meio.

O homem manifesta, em suas novas existências, os traços do caráter moral das existências anteriores. Mas, ao melhorar-se, ele se modifica.

Numa nova encarnação, a posição social do Espírito também pode não ser a mesma da existência anterior. Se de senhor ele se tornar escravo, suas inclinações serão muito diferentes e de difícil reconhecimento.

O Espírito sendo sempre o mesmo, nas diversas encarnações, suas manifestações podem ter, de uma para outra, certas semelhanças. Estas, entretanto, serão modificadas pelos costumes da nova posição, até que um aperfeiçoamento notável venha mudar completamente o seu caráter, pois de orgulhoso e mau pode tornar-se humilde e humano, desde que se haja arrependido e progredido.

Nas suas diferentes encarnações, o homem não conserva os traços do caráter físico das existências anteriores. O corpo material é destruído e o novo corpo não tem nenhuma relação com o antigo.

O Espírito se reflete no novo corpo material. Ele é modelado pelas qualidades do Espírito, imprimindo-lhe certo caráter. As qualidades do Espírito modificam quase sempre os órgãos que servem para as suas manifestações.

IX – IDEIAS INATAS

A vaga lembrança que o Espírito encarnado conserva das vitórias que obteve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores expressa-se através da chamada ideias inatas.

Os conhecimentos adquiridos em cada existência corporal não se perdem. O Espírito, liberto do corpo material, sempre se recorda deles.

Durante a encarnação, o Espírito pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que lhe fica ajuda o seu adiantamento. Sem isso, ele sempre teria de recomeçar.

A cada nova existência, o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se achava na precedente.

Mas, nem sempre há uma grande conexão entre duas existências corporais sucessivas. As novas posições são quase sempre muito diferentes e no intervalo de ambas o Espírito pode ter progredido.

A origem das faculdades extraordinárias que os indivíduos, sem estudo prévio, demonstram ter, como a intuição de certos conhecimentos, como as línguas, o cálculo, etc., está na lembrança do passado, no progresso anterior da alma, mas do qual ela mesma não tem consciência. Os corpos materiais mudam, mas o Espírito é sempre o mesmo.

Numa nova encarnação, o Espírito pode perder certas faculdades intelectuais, como, por exemplo, o gosto pelas artes, desde que ele tenha desonrado essa faculdade, empregando-a mal.

Uma faculdade pode também ficar adormecida durante uma existência corporal, porque o Espírito quer exercer outra, que não se relacione com ela. Nesse caso, permanece em estado latente, para reaparecer mais tarde.

O sentimento instintivo da existência de Deus e o pressentimento da vida futura é uma lembrança que o Espírito conserva daquilo que sabia como Espírito, antes de encarnar. Mas, o orgulho frequentemente abafa esse sentimento.

Essa lembrança do Espírito faz surgir certas crenças relacionadas com a doutrina espírita, mas que se encontram em todos os povos. Por serem encontradas por toda parte, é uma prova da sua veracidade.

O Espírito encarnado, conservando a intuição do seu estado de Espírito, tem a consciência do mundo invisível. Mas quase sempre ela é falseada pelos preconceitos, e a ignorância mistura a ela a superstição.

CONSIDERAÇÕES DO AUTOR DESTE ARTIGO

Conforme vimos acima em detalhes, o princípio espírita da pluralidade das existências materiais (ou da reencarnação do Espírito) é muito abrangente. Tem um caráter universal.

Retrata os Atributos de Deus; a criação, a vida imortal e o destino dos Espíritos; as características dos diferentes mundos habitados que existem no Universo e que se prestam à encarnação dos Espíritos; as relações existentes entre a vida espiritual e a vida material; as condições sociais, de sexo e de vida dos homens no planeta Terra visando a conquista de experiências; as qualidades intelectuais e morais que os Espíritos encarnados vão adquirindo com as provas, tribulações e missões nas existências corporais para ascender na hierarquia verdadeira; as novas oportunidades de expiação, reparação e evolução que a alma desfruta com a reencarnação; e o futuro venturoso que Deus reservou para todos os Seus Filhos.

Isso, diferentemente da crença na unicidade da existência material, descortina a enorme complexidade da Obra de Deus. Mostra o contexto grandioso em que estamos inseridos na condição de Espíritos imortais e perfectíveis, criados por Deus. Explica com clareza a enorme diversidade de situações que encontramos na jornada evolutiva para nos conduzir paulatinamente à perfeição intelectual, moral e espiritual.
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CAPÍTULOS ANTERIORES DE “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”
Os artigos com as principais lições contidas nos Capítulos anteriores de “O Livro dos Espíritos” foram publicadas neste mesmo blog e podem ser consultadas nas seguintes datas:
Introdução = 30/janeiro/2009.
Prolegômenos = 09/abril/2009.
Capítulo I: Deus = 07/julho/2009.
Capítulo II: Elementos Gerais do Universo = 08/fevereiro/2010.
Capítulo III: Criação = 18/junho/2010.
Capítulo IV: Princípio Vital = 09/setembro/2010.
Parte 2, Cap. I: Dos Espíritos = 01/abril/2011.
Parte 2, Cap. II: Encarnação dos Espíritos = 04/outubro/2011.
Parte 2, Cap. III: Retorno da vida corpórea à vida
Espiritual = 28/fev/2012.