terça-feira, 1 de setembro de 2009

"O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO": MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO


PRINCIPAIS LIÇÕES CONTIDAS EM “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO”, CAPÍTULO II: MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO.

Geziel Andrade

“Pilatos fez vir Jesus e lhe disse: Tu és o rei dos judeus? Jesus lhe respondeu: Meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, minha gente teria combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas meu reino não é aqui. Pilatos então lhe disse: És, portanto, rei? Jesus lhe replicou: Tu o dizes; eu sou rei; nasci e vim a este mundo para dar testemunho da verdade; quem é da verdade escuta a minha voz”. (João, Cap. XVIII, vers. 33 a 37.)

A VIDA FUTURA

Jesus, ao dizer que o seu reino não é deste mundo, refere-se claramente à vida futura, que deve ser objeto das principais preocupações dos homens.

Por sinal, todas as máximas de Jesus estão relacionadas com a existência da alma, sua sobrevivência à morte do corpo material e a continuidade da sua vida no Reino dos Céus.

Sem a existência da vida futura para a alma, a maior parte dos preceitos morais de Jesus não teria sentido ou razão de ser.

Sem a crença na vida futura, o homem encontra dificuldade em compreender a doutrina moral de Jesus, em praticar os ensinamentos do Cristo e de agir de acordo com a justiça de Deus.

Sem compreender a vida futura, o homem não prepara a sua alma, tornando-a virtuosa para conquistar as bem-aventuranças espirituais no Reino dos Céus.

Jesus veio ao mundo para revelar aos homens que existe um outro mundo onde a justiça de Deus segue o seu curso; onde os que observam os mandamentos de Deus encontram a sua recompensa. Esse mundo é o reino de Jesus, para onde sua alma retornaria após ter cumprido a missão que Deus lhe havia confiado.
O ESPIRITISMO E A VIDA FUTURA

O Espiritismo, graças às comunicações com os Espíritos, através de diferentes médiuns, confirma os princípios da doutrina de Jesus. Assim, a vida futura deixa de ser um artigo de fé. Torna-se uma realidade demonstrada pelos fatos espíritas, pois os Espíritos vêm descrever detalhadamente a vida no além em todas as suas fases e em todas as suas peripécias. Eles não deixam qualquer dúvida sobre a existência da alma, a sua sobrevivência no Reino dos Céus, após a morte do corpo material, e a importância da acumulação dos tesouros espirituais, pela prática das virtudes, para que a alma mereça desfrutar das bem-aventuranças na vida espiritual.

Com isso, o Espiritismo reafirma e revive os ensinamentos religiosos e morais de Jesus. Ele ressalta a importância do seu conhecimento e de sua prática para a vida futura, onde os Espíritos são felizes ou infelizes em função dos mecanismos da justiça de Deus, que dá a cada um segundo as suas obras.

A REALEZA DE JESUS

Jesus possui uma realeza imperecível, que é a realeza moral. Esta vigora na vida presente, mas, sobretudo, na vida futura. Por isso, Jesus disse a Pilatos: Sou rei, mas meu reino não é deste mundo.

Com a doutrina de Jesus, compreendemos que a realeza terrena, pautada na posse dos bens materiais, é transitória, pois acaba com a morte do corpo. Por isso, devemos concentrar os nossos esforços para praticar as virtudes e conquistar os tesouros espirituais imperecíveis, que nos dão a realeza moral, que é eterna.

O PONTO DE VISTA

A idéia clara e precisa que o homem faz da vida futura lhe dá uma fé inabalável no porvir e lhe estimula a buscar a moralização. Assim, valoriza a vida espiritual e encara a vida terrestre, que é passageira, de um modo completamente diferente: suporta as preocupações, vicissitudes e tribulações com calma e paciência; trabalha pelo bem-estar, a melhoria e o progresso de todos; e busca conquistar, pela prática das virtudes, um estado feliz na morada futura, onde reinam a felicidade e a paz.

O Espiritismo, ao revelar e desvendar as realidades espirituais, alarga o pensamento e os horizontes do homem; mostra a vida presente como uma oportunidade de preparação da alma para merecer boas condições na vida futura; revela a solidariedade que liga todas as existências do ser e este a todos os seres pertencentes ao conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador.

INSTRUÇÃO DOS ESPÍRITOS. UMA REALEZA TERRENA.

Allan Kardec, confirmando os ensinamentos de Jesus acerca da importância da conquista da realeza moral e espiritual na vida terrena, para a conquista das bem-aventuranças no Reino dos Céus, apresentou a seguinte comunicação do Espírito “Uma Rainha de França”, psicografada em Havre, em 1863.

Nessa comunicação, intitulada “Uma Realeza Terrena”, percebemos que o orgulho é pernicioso para a alma; que nem a realeza terrena, nem o título de nobreza são levados para o mundo espiritual; que a desilusão e a humilhação ferem a alma daquele que despreza os pequeninos da Terra, mas que estão espiritual e moralmente acima dele; que as virtudes da abnegação, da humildade, da caridade e da benevolência são indispensáveis para a alma conquistar um bom lugar no Reino dos Céus.

“Quem melhor que eu pode compreender a verdade dessa fala de Nosso Senhor: Meu reino não é deste mundo? O orgulho fez que eu me perdesse na Terra. Quem, pois, compreenderia o vazio dos reinos terrenos, se eu não o compreendesse? O que levei comigo de minha realeza terrestre? Nada, absolutamente nada. E para tornar-me a lição mais terrível, ela não me acompanhou nem até a tumba! Rainha eu era entre os homens, rainha eu acreditava entrar no reino dos céus. Que desilusão! Que humilhação quando, em lugar de lá ser recebida com soberania, vi acima de mim, mas muito acima, homens que eu acreditava muito pequenos, e que desprezava, porque não eram de sangue nobre! Oh! O que então eu compreendi da esterilidade das honrarias e das grandezas que se buscam com tanta avidez na Terra!

Para se preparar um lugar nesse reino é preciso abnegação, humildade, caridade em toda sua celeste prática, benevolência para com todos. Não vos perguntam quem fostes, qual posto ocupastes, mas o bem que fizestes, as lágrimas que enxugastes.

Oh! Jesus, tu o disseste, teu reino não era deste mundo.

Pois é preciso sofrer para chegar ao céu, e os degraus do trono não vos aproximam dele. São os atalhos mais penosos da vida que para lá conduzem. Portanto, procurai a estrada do céu entre os abrolhos e os espinhos, e não entre as flores.

Os homens correm atrás dos bens terrenos como se pudessem guardá-los para sempre. Mais ilusão. Logo percebem que se agarraram a uma sombra, e negligenciaram os únicos bens sólidos e duráveis, os únicos que lhes têm proveito na celeste morada, os únicos que podem abrir-lhes o acesso dela.

Tende piedade daqueles que não ganharam o reino dos céus. Ajudai-os com vossas preces, pois a prece reconcilia o homem com o Altíssimo – é o traço de união entre o céu e a Terra, não o esqueçais”. (Uma rainha da França. Havre, 1863).