quinta-feira, 15 de março de 2012

"O LIVRO DOS MÉDIUNS": MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES














IMAGEM: Hermance Dufaux. Caroline Baudin, Julie Baudin, Ruth Céline Japhet e Hermance Dufaux atuaram como extraordinárias médiuns de manifestações inteligentes dos Espíritos, no início da codificação do Espiritismo por Allan Kardec.

PRINCIPAIS LIÇÕES CONTIDAS EM “O LIVRO DOS MÉDIUNS”, SEGUNDA PARTE, CAPÍTULO III: MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES

Geziel Andrade

As manifestações inteligentes dos Espíritos foram substituindo gradativamente as suas manifestações físicas, caracterizadas por ruídos, movimentos e deslocamentos de corpos sólidos, principalmente de mesas.

Os fenômenos dessas mesas girantes foram o ponto de partida da Doutrina Espírita.

Mas, logo em seguida à produção dos fenômenos das mesas girantes, os Espíritos começaram a dar provas de inteligência, vontade livre e voluntária, intenção definida e capacidade de responder ao pensamento.

Ora, todo efeito inteligente tendo necessariamente uma causa inteligente, levou os observadores dos fenômenos a concentrarem sua busca na descoberta da causa inteligente que os produzia.

Era incontestável que as mesas girantes moviam-se, levantavam-se e davam pancadas, sob a influência de um ou de muitos médiuns, obedecendo a uma determinação firme.

A mesa podia, sem mudar de lugar, se erguer alternativamente sobre o pé que lhe fosse indicado para, em seguida, cair batendo um número determinado de pancadas, respondendo a uma pergunta.

Outras vezes, a mesa, sem o contato de pessoa alguma, passeava sozinha pelo aposento, indo para a direita ou para a esquerda, para diante ou para trás, executando movimentos diversos, conforme as ordens dos assistentes da reunião.

A mesa, por meio de pancadas, ou de estalidos produzidos em seu interior, produzia efeitos inteligentes, como a imitação dos rufos de um tambor; do disparo da fuzilaria de um pelotão ou de um canhoneiro; do ranger de uma serra; dos golpes de um martelo; do ritmo de diferentes árias, etc.

Então, deduziu-se que se a inteligência oculta podia produzir esses fenômenos, certamente, poderia também responder às perguntas que lhe fossem feitas.

E, de fato, a mesa passou a responder perguntas, por um sim, por um não, dando o número de pancadas que se convencionava para um caso ou para o outro caso.

Como as respostas dadas pela mesa através desse método eram muito restritas, surgiu a ideia de fazer-se que a mesa indicasse as letras do alfabeto, para que fossem compostas palavras e frases.

Então, essas manifestações dos Espíritos passaram a ser obtidas à vontade por milhares de pessoas e em todos os países, não deixando dúvida sobre a natureza inteligente delas.

Além disso, constatou-se que os fenômenos das mesas não decorriam da inteligência do médium, do interrogante ou mesmo dos assistentes.

Era evidente que as respostas às perguntas, obtidas através dos movimentos das mesas, quase sempre se achavam em oposição formal às ideias dos assistentes; fora do alcance intelectual do médium e eram dadas em línguas ignoradas por este, referindo-se a fatos desconhecidos por todas as pessoas presentes na reunião.

Exemplos disso eram incontáveis. Um deles ocorreu num navio da marinha imperial francesa, estacionado nos mares da China, onde os marinheiros e até o estado-maior se ocupavam em fazer que as mesas falassem.

Certo dia, tiveram a ideia de evocar o Espírito de um tenente que pertencera à guarnição do mesmo navio e que morrera havia dois anos.

O Espírito veio, deu várias comunicações através de pancadas, enchendo todos de espanto. Além disso, disse:
“Peço-vos instantemente que mandeis pagar ao capitão a soma de ... (indicava a cifra), que lhe devo e que lamento não ter podido restituir-lhe antes de minha morte.”

Ninguém conhecia o fato. O próprio capitão se esquecera desse débito porque era mínimo. Mas, procurando nas suas contas, encontrou uma nota da dívida do tenente, de importância exatamente idêntica à que o Espírito indicara.

Então se torna inevitável a pergunta: Do pensamento de quem podia essa indicação ser o reflexo?

O processo de obtenção de comunicações com os Espíritos através de pancadas alfabéticas dadas pelas mesas foi aperfeiçoado; mas mesmo assim esse meio continuava a ser muito moroso.

Apesar disso, algumas comunicações de certa extensão foram obtidas, contendo interessantes revelações sobre o mundo dos Espíritos.

Foram os próprios Espíritos que indicaram outros meios de aperfeiçoamento das comunicações, levando às escritas mediúnicas.

As primeiras escritas dos Espíritos foram obtidas adaptando-se um lápis ao pé de uma mesa leve, colocada sobre uma folha de papel.

Posta a mesa em movimento pela influência de um médium começou a traçar caracteres, depois palavras e frases.

Esse processo foi simplificado gradualmente pelo emprego de mesinhas do tamanho de uma mão, construídas expressamente para isso.

Em seguida, foram utilizadas cestas, caixas de papelão e até simples pranchetas.

Com isso, a escrita saía tão corrente, tão rápida e tão fácil como a feita com a mão.

Um pouco mais tarde, reconheceu-se que todos os objetos utilizados não passavam de apêndices, de verdadeiras lapiseiras, que podiam ser dispensáveis, se o médium segurasse o lápis com a sua própria mão.

Forçada a um movimento involuntário, a mão do médium escrevia sob o impulso imprimido pelo Espírito, sem qualquer interferência da vontade ou do pensamento do médium.

A partir de então, as comunicações de além-túmulo se tornaram sem limites, como o é a correspondência habitual entre os vivos.

Esses fatos levaram os observadores a reconhecer, sem qualquer dúvida, a intervenção inteligente dos Espíritos.

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CONSIDERAÇÕES DO AUTOR DESTE ARTIGO
Allan Kardec participou, pela primeira vez, numa reunião dos fenômenos das mesas girantes, em maio de 1855, na casa da senhora Plainemaison.

Ali, viu pessoalmente as mesas que giravam, saltavam e corriam em tais condições que não deixam lugar para qualquer dúvida sobre a realidade dos fenômenos. Assistiu ainda a alguns ensaios muito imperfeitos de escrita mediúnica, numa ardósia, com o auxílio de uma cesta.

Então, decidiu estudar a fundo os fenômenos, para identificar as suas causas verdadeiras. Assim, passou a frequentar as reuniões que eram realizadas na casa da senhora Plainemaison.

Nessas reuniões, conheceu a família Baudin que realizava também sessões regulares de comunicação com os Espíritos em seu próprio ambiente doméstico.

Pelo interesse que Allan Kardec demonstrava no estudo dos fenômenos espíritas, foi convidado para assistir as sessões que eram realizadas na casa da família Baudin. Assim, tornou-se nelas um frequentador muito assíduo.

As duas filhas do senhor Baudin, Caroline, de 16 anos de idade, e Julie, de 14 anos de idade, serviam de médiuns nas reuniões, prestando-se à produção de uma grande variedade de manifestações dos Espíritos.

Nessas sessões na casa do senhor Baudin, Allan Kardec convenceu-se da veracidade das comunicações dos Espíritos; da imortalidade da alma e da sua sobrevivência à morte do corpo material, já que os Espíritos são as almas dos homens que morreram; e que em suas comunicações inteligentes, os Espíritos podem responder às perguntas que lhes forem dirigidas, dar conselhos oportunos e revelar as suas condições de vida no mundo dos Espíritos.

Então, Allan Kardec passou a levar para as reuniões perguntas previamente elaboradas para obter dos Espíritos a solução para inúmeros problemas até então insolúveis nos campos da filosofia, da psicologia e da vida no mundo espiritual.

As perguntas complexas apresentadas por Allan Kardec eram respondidas pelos Espíritos com sabedoria, clareza, precisão, profundeza e lógica.

Então, Allan Kardec teve a idéia de reunir num livro as suas perguntas e as respostas dadas pelos Espíritos, para a instrução das pessoas em geral.

Além de frequentar as reuniões espíritas na casa do senhor Baudin, Allan Kardec passou também a ir nas reuniões sérias que eram realizadas na casa do senhor Roustan, tendo a senhorita Ruth Céline Japhet, de 18 anos de idade, como médium para as manifestações inteligentes dos Espíritos.

Nessas reuniões, Allan Kardec encontrou um campo propício para o desenvolvimento de suas pesquisas; para propor questões espinhosas aos Espíritos; e aprimorar o conteúdo do livro que tinha em mente elaborar e publicar. Nesse sentido, a extraordinária mediunidade da senhorita Japhet prestou-se de forma formidável e confiável.

Mesmo assim, Allan Kardec decidiu colher as respostas de muitos outros Espíritos para as suas questões, através de diferentes médiuns. Para isso, frequentou inúmeras reuniões espíritas, conhecendo muitos médiuns.

Entre os médiuns que se prestavam às manifestações inteligentes dos Espíritos, Allan Kardec conheceu a médium senhorita Hermance Dufaux, que possuía apenas quatorze anos de idade.

Ela havia psicografado o primeiro livro espírita escrito por um Espírito. Tratava-se do livro “História de Joana D’Arc ditada por ela mesma à senhorita Hermance Dufaux”.

Allan Kardec, na “Revista Espírita” de março de 1858, publicou um artigo informando aos leitores a existência de outro livro espírita: “Confissões de Luís XI –História de sua vida-, ditada por ele mesmo à senhorita Hermance Dufaux”. Esse livro foi escrito em apenas 15 dias, formando um grosso volume.

As obras publicadas por Allan Kardec, a partir de então, reuniram provas incontestáveis da enorme variedade e grandiosidade das manifestações inteligentes dos Espíritos, através de diferentes médiuns.

Com o passar do tempo, as manifestações inteligentes dos Espíritos foram deixando para trás as suas manifestações físicas.

Allan Kardec, a respeito disso, escreveu o seguinte na “Revista Espírita” de julho de 1867:
“Um outro sinal de progresso não menos característico é a pouco importância que, por toda a parte, os adeptos, mesmo nas classes menos esclarecidas, ligam aos fatos de manifestações extraordinárias.”
“Se efeitos desse gênero se produzem espontaneamente, constata-se-os, mas não se comovem, não os procuram e, ainda menos, tratam de os provocar.”
“Apegam-se pouco àquilo que apenas satisfaz aos olhos e à curiosidade.”
“O objetivo sério da doutrina, suas consequências morais, os recursos que ela pode oferecer para alívio do sofrimento, a felicidade de reencontrar parentes ou amigos que se perdeu, conversar com eles, escutar conselhos que vêm dar, constituem o objetivo exclusivo e preferido das reuniões espíritas.”
“Mesmo no campo e entre os artífices, um poderoso médium de efeitos físicos seria menos apreciado que um bom médium escrevente dando, por comunicações raciocinadas, a consolação e a esperança. O que se busca na doutrina é, antes de tudo, o que toca o coração.”
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CAPÍTULOS ANTERIORES DE “O LIVRO DOS MÉDIUNS”

As principais lições contidas nos Capítulos anteriores de “O Livro dos Médiuns” foram publicadas neste mesmo blog nas seguintes datas:
13/fevereiro/2009 = INTRODUÇÃO.
24/abril/2009 = CAP. I: EXISTEM ESPÍRITOS?
05/agosto/2009 = CAP II: O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL.
02/março/2010 = CAP. III: MÉTODO.
14/julho/2010 = CAP. IV: SISTEMAS.
26/abril/2011 =SEGUNDA PARTE, CAP. I: AÇÃO DOS ESPÍRITOS SOBRE A MATÉRIA.
19/outubro/2011 = SEGUNDA PARTE, CAP. II: MANIFESTAÇÕES FÍSICAS E MESAS GIRANTES.