JORGE TOLEDO RIZZINI
Geziel Andrade
Jorge Rizzini, como era conhecido no Movimento Espírita, nasceu na cidade de São Paulo –SP-, em 25 de setembro de 1924, em uma família em que a avó, o pai e a mãe já eram espíritas.
A partir de 1950, passou a ter uma participação mais intensa no meio espírita, dando início, com seu espírito empreendedor e com suas habilidades de escritor, jornalista, radialista e publicitário, a muitas realizações pessoais e mediúnicas, que o notabilizaram na seara espírita.
Seu trabalho inicial concentrou-se na divulgação e defesa da Doutrina Espírita. Ele encontrou apoio de algumas personalidades ilustres e respeitadas, tais como Chico Xavier, Yvonne Pereira e José Herculano Pires.
Os estudos que realizou sobre o caso Arigó e das materializações de Espíritos ocorridas em Uberaba obtiveram a comprovação incontestável dos fenômenos espíritas. Isso causou grande repercussão tanto no Brasil, quanto no exterior.
Com seu amor e sua dedicação à causa espírita buscou novos rumos de atuação, inovando os trabalhos nas lides espíritas.
Assim, tornou-se o pioneiro no lançamento de um programa espírita na televisão brasileira, estreando um programa de entrevistas e debates, intitulado “Em Busca da Verdade”, na TV Cultura de São Paulo. Nessa ocasião, o entrevistado foi o famoso médium Chico Xavier, causando grande impacto e obtendo importante repercussão junto ao público espírita e não espírita. Em seguida, para garantir a grande audiência obtida, passou a entrevistar todos os eminentes líderes espíritas, inclusive Deolindo Amorim.
Lançou também uma revista espírita direcionada especificamente para o público infanto-juvenil, com o chamativo título de “Kardequinho”.
A seguir, passou a produzir inúmeros documentários cinematográficos sobre os grandes vultos do Espiritismo: Allan Kardec, em Paris; Irmãs Fox, nos Estados Unidos; As operações de Arigó; A mediunidade de Chico Xavier; A médium Yvonne A. Pereira; e Herculano Pires e sua obra, divulgando as importantes realizações dessas grandes personalidades espíritas.
Além disso, escreveu importantes livros, tais como: “Eurípedes Barsanulfo – O Apóstolo da Caridade”; “Kardec, Irmãs Fox e outros”; e “Herculano Pires – O Apóstolo de Kardec”, notabilizando-se como escritor espírita.
Mas foram as músicas compostas e transmitidas a ele por diversos Espíritos de compositores famosos, tais como: Lamartine Babo, Ataulfo Alves, Ary Barroso, Francisco Alves, Noel Rosa, dentre muitos outros, que tornaram a sua mediunidade musical muito conhecida. Com isso, produziu as seguintes fitas cassetes e CDs:
· Compositores do Além – Volume 1, contendo músicas populares brasileiras.
· Compositores do Além – Volume 2, contendo músicas nacionais, argentinas e norte-americanas.
· Compositores do Além – Volume 3, contendo músicas líricas italianas.
· Marchas Mediúnicas – Reunidas em um disco compacto.
· Músicas do Além – CD com músicas populares brasileiras.
Essas surpreendentes manifestações musicais dos Espíritos levaram-no a idealizar e a realizar os famosos Festivais de Música Mediúnica. Eles contaram com a participação de músicos famosos e respeitados, alcançando grande repercussão tanto no Movimento Espírita, quanto fora dele.
Sua mediunidade teve início quando ainda era menino. Muitas vezes sentia, fisicamente, a presença dos Espíritos; mas essa faculdade floresceu mesmo a partir de 1978.
A primeira música obtida através de sua mediunidade musical foi a marchinha intitulada “Promessa é dívida”. Ele viu o Espírito Ataulfo Alves atravessar a porta de seu quarto, cantando uma estrofe. Em seguida, surgiu o Espírito Lamartine Babo, cantarolando outra estrofe. Mas, logo, ambos desapareceram de seus olhos atônitos. Instantaneamente, ele teve a idéia de pegar um gravador e registrar as letras e as melodias.
Posteriormente, Roberto Amaral, um cantor da antiga TV Record, gravou essa marchinha, marcando o início da publicação de sua produção com a mediunidade musical.
Um fato interessante é que Jorge Rizzini nunca estudara música; não tocava nenhum instrumento musical, nem de ouvido; e não cantava de modo afinado. Apenas gostava de todo gênero de música.
Ele dizia que, com certeza, fora a sua paixão pela música que fizera com que os compositores do Além, tais como Verdi, Puccini, Carlos Gardel, Duke Ellington, John Philip Souza, Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Ataulfo Alves, dentre muitos outros, sentissem afinidade com ele. Assim, usaram-no como instrumento mediúnico para transmitir ao público algumas de suas composições inéditas feitas no mundo dos Espíritos.
Quando houve a gravação das primeiras músicas mediúnicas, Jorge Rizzini já era conhecido no Movimento Espírita. Havia psicografado a obra “Antologia do Mais Além”, prefaciada por Herculano Pires. Esse livro continha poesias de 44 poetas brasileiros, portugueses e norte-americanos, tais como: Anchieta, o fundador da literatura brasileira, Camões, Castro Alves, Edgard Allan Poe, Florbela Espanca e o Cego Aderaldo, notável repentista no norte e nordeste do Brasil.
Com as músicas mediúnicas, (a exemplo do que havia ocorrido com as poesias mediúnicas), voltavam do Além grandes músicos e compositores com o mesmo estilo que tinham quando estavam vivos na Terra. Isto permitiu que essas músicas fossem facilmente aceitas e gravadas por grandes cantores profissionais, tais como Cláudia, Noite Ilustrada, Djalma Dias. A Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo gravou a marcha “Glória a Allan Kardec”, obtendo grande repercussão junto ao público pela sua originalidade e beleza.
O seu trabalho mediúnico de captação das músicas dos compositores do Além era realizado em seu próprio lar, no silêncio da noite, porque exige muita precisão.
Jorge Rizzini mantinha um pequeno gravador sobre a mesa do seu escritório para gravar, a meia voz, as músicas que os Espíritos compositores lhe transmitiam telepaticamente. Eram sambas, marchas de variados tipos, tangos, blues e canções líricas.
A captação mental das músicas era muito difícil. Mais difícil do que a captação de textos em prosa ou verso ditados pelos Espíritos.
Ele era médium consciente. Isso exigia um entrosamento perfeito da sua mente com a do Espírito, para que a melodia tomasse a direção que o Espírito desejava lhe dar.
Quando isso não acontecia, o Espírito chamava a sua atenção, promovendo batidas nos móveis. Então, ele tinha que gravar novamente a melodia.
A sua limitação maior era não saber escrever a música na partitura. Isso impedia que ele recebesse sinfonias ou peças pianísticas.
Ele captava e gravava as melodias e as respectivas letras, mantendo o estilo que identificava perfeitamente o seu autor espiritual.
Com relação à idéia inovadora de criar o Primeiro Festival de Música Mediúnica, realizado em 1982, no grandioso e famoso Teatro Municipal de São Paulo, o próprio Jorge Rizzini contava que, certo dia, tal idéia foi-lhe sugerida pelo seu Espírito Guia Manuel de Abreu.
Ele estava em frente ao Teatro Municipal de São Paulo quando teve a intuição de que esse deveria ser o palco para a apresentação pública das músicas recebidas dos Espíritos. Os estilos e gêneros tão diversificados davam provas incontestáveis da sobrevivência da alma e da comunicabilidade dos seus autores. Isso deveria ser levado a público.
Impulsionado pela espiritualidade, ele fez uma visita ao Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, o famoso poeta e crítico literário Mário Chamie, para expor a sua pretensão. A conversa começou sobre literatura e logo passou sobre a grande admiração que ambos dedicavam a Herculano Pires. Isso facilitou o entendimento e possibilitou que ele, sem delongas, pedisse a cessão do Teatro Municipal para que fosse realizado o citado Festival.
Jorge Rizzini não tinha dúvidas de que existiu uma ação fulminante dos Espíritos. Chamie, sem sequer ouvir uma das músicas dos compositores do Além, confiadas a ele, atendeu ao seu pedido prontamente.
Assim o evento foi marcado, preparado, tornou-se realidade e ocorreu com grande sucesso. O impacto máximo, no dia do espetáculo, ocorreu já na abertura. A notável Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em sua farda de gala, abriu o Festival com a marcha triunfal “Glória a Allan Kardec”, arrebatando e levando ao êxtase o público que lotava o Teatro. Depois vieram as outras músicas que encantaram a todos.
Foi um importante acontecimento cultural valorizando a música mediúnica e o Movimento Espírita. Mas isso exigiu que providências indispensáveis fossem tomadas.
Jorge Rizzini procurou diversos cantores e instrumentistas profissionais para lhes mostrar as músicas recebidas. Eles reconheceram, de pronto, os estilos dos Espíritos comunicantes, abrindo o caminho para a divulgação pública.
Obteve ainda apoio dos Diretores da Federação Espírita do Estado de São Paulo, da USE, do Lar da Família Universal, na pessoa do confrade Paulo Toledo Machado. Então decidiu que os proventos do espetáculo e do disco lançado seriam doados para o Lar e a USE, para colaborar na aquisição de uma sede própria.
A repercussão desse acontecimento em benefício da Doutrina Espírita foi enorme. Em conseqüência, até o ano de 2006, foram realizados: 4 festivais na cidade de São Paulo; 1 em Salvador; 3 shows de música mediúnica no Estado da Bahia; e 2 no interior do Estado de São Paulo; além de 11 espetáculos doutrinários.
Pela originalidade e beleza, esses eventos mereceram destaque em diversos canais de televisão, jornais profanos, nas revistas “Veja” e “Carta Capital”, além dos notáveis jornais “Folha de São Paulo”, “O Estado de São Paulo”, “O Dia”, “O Globo”, etc. A televisão francesa, o Canal 1 de Paris, filmou, em São Paulo, a Banda da Polícia Militar executando a marcha “Glória a Allan Kardec”, tendo, depois, a divulgado pelo mundo inteiro.
Esses espetáculos permitiram que fossem reconhecidos publicamente a autenticidade e os estilos dos autores espirituais. Opinaram a esse respeito Joel Azevedo, filho de Leonel Azevedo; Maria José Babo, viúva de Lamartine Babo; Dona Judith, viúva de Ataulfo Alves, dentre muitos outros que fizeram o reconhecimento estilístico dos cantores e dos instrumentistas do Além.
Dentre os músicos importantes que deram o seu aval para as músicas do Além estavam:
· O cantor Djalma Dias, que gravou o samba do Espírito Noel Rosa, intitulado “Canções”.
· O Maestro Amilson Godoy, que reconheceu o estilo e a individualidade artística de cada compositor pelos encadeamentos harmônicos, a criação da linha melódica e o desenvolvimento rítmico. Ele disse que a mediunidade de Rizzini impressionava pela variedade de estilos, utilização dos elementos rítmicos e melódicos, nos quais percebia-se claramente a presença dos Espíritos nessas composições.
· O Maestro Francisco Cabrerisso do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que reconheceu que, no caso da música “Súplica”, que trazia a assinatura de Ary Barroso, seu Espírito realmente estava presente nela, não só no aspecto melódico, mas também no rítmico. As diversas variações de divisão de valores caracterizavam bem o estilo do referido autor.
· Araci de Almeida, que, ao ouvir uma música do Espírito Noel Rosa, disse: “Se é Noel Rosa não sei, mas é o estilo dele! Chega a ser gritante, porque é tão bom, é tão igual...”
· Maria José Babo, que disse: “As melodias de Lamartine têm uma linha purista. Conheço o estilo de meu marido. Só ele poderia fazer essa música do Além”.
· Rodolfo De Sio, cantor argentino, que disse: “Foi com uma emoção muito grande que recebi o convite para gravar duas músicas mediúnicas de Carlos Gardel, recebidas pelo Rizzini. São tangos muito bonitos. Eles contêm uma mensagem que deve ser bem entendida no todo, tanto na riqueza da letra, como na riqueza da música”.
· O cantor Roberto Amaral disse: “Quando ouvi essas melodias recebidas pelo Jorge Rizzini, fiquei até arrepiado; principalmente quando ouvi a primeira do Ary Barroso. Parecia o Ary mostrando uma nova música dele. A coisa mais importante é o fato dos Espíritos se identificarem nos seus estilos”.
· O Sr. Antonio Domingos, Maestro e Comandante do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo disse: “Considero um privilégio – uma honra mesmo, reger essa música mediúnica de John Philip Souza. Conheço todas as suas músicas e passei parte da vida regendo-as. E agora, como vou aposentar-me, dentro de semanas, considero um prêmio gravar diante das câmaras da TV Globo a sua marcha-hino “Glória a Kardec”. É belíssima e tem todas as características de John Philip Souza”.
Jorge Rizzini esforçava-se em divulgar a sua mediunidade musical porque considerava que as manifestações musicais dos Espíritos, através de sua faculdade mediúnica, ofereciam a prova incontestável que a morte mata apenas o corpo material, mas não mata a consciência. Isso lhe fora muito bem acentuado pelo Espírito Aderaldo em um de seus poemas que ele tivera a honra de psicografar.
PALAVRAS FINAIS
Jorge Rizzini conquistou, com esforços perseverantes e muitas realizações importantes, um lugar de destaque e de honra no Movimento Espírita.
Suas importantes e extensas obras espíritas divulgaram o Espiritismo, fortalecendo o Movimento Espírita.
Jorge Rizzini jamais deixou de acompanhar muito atento tudo o que se passava na seara espírita, intervindo quando exigia a sua participação ou colaboração. Mas, seu falecimento ocorreu de modo repentino na madrugada do dia 17 de outubro de 2008. Ele estava com a esposa Iracema Sapucaia visitando Buenos Aires, quando fora acometido de um ataque cardíaco. A melhora no quadro de saúde permitia que voltasse ao Brasil para melhor se restabelecer. Mas, em pleno vôo de retorno da Argentina ocorreu a sua desencarnação.
Porém, o legado de Jorge Rizzini já estava constituído. Fora erigido ao longo de décadas de muito trabalho e realizações em uma existência exemplar, que o tornaram digno de merecer de todos admiração, respeito e espírito de gratidão.
2 comentários:
Amigo,
Parabéns......
O movimento espírita precisa de pessoas dedicadas a divulgação dos trabalhos e dessa qualidade.
beijo no coração
saula
Recebi da filha de Jorge Rizzini o seguinte comentário:
SOBRE JORGE RIZZINI
Geziel:
Acabei de ler seu artigo sobre meu pai.
Fique muito emocionada porque foi relatado com muita fidelidade e sensibilidade seu trajeto dentro do espiritismo.
Ele dedicou grande parte de sua vida na divulgação da doutrina, e nós familiares tivemos o privilegio de testemunhar este fato de perto.
Obrigada, abraços
M.Angelica Rizzini
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